Júlio Henrique Raffard (fundador)

Júlio Henrique Raffard (fundador)

Engenho Central

O ENGENHO CENTRAL DE RAFARD
  
   A primeira tentativa de implantação de um Engenho Central em Capivari data de 1876, quando o Conselheiro Bernardino Avelino Gavião Peixoto e Joaquim C. Travassos (intimorato patrocinador da idéia, como assevera o jornal "Capivari", desse mesmo ano), empenharam-se em ver instalado no município esse primeiro Engenho Central de São Paulo.
   A iniciativa não foi adiante face ao desinteresse dos lavradores, temerosos do que julgaram uma perigosa aventura para seus capitais, contrariamente aos fazendeiros de Porto Feliz, que se intusiasmaram com o plano e fizeram frutificar o projeto em seu município.
   O exemplo de Araritaguaba auxiliou, mais tarde, o trabalho de Henrique Rafard, o qual, "com seu espírito empreendedor", como declarou Cesário Motta, "formou o plano, obteve o privilégio e garantia de juros, organizou a Companhia, levantou os capitais e encetou a obra com um arrojo verdadeiramente americano".
   Estava-se em 1883.
   No dia 12 de maio, com grande solenidade, foi assentada a primeira pedra para a construção do Engenho. Num local distante cerca de 4 quilômetros da estação de Capivari, terreno triangular de 10 alqueires que teria sua base no rio Capivari e os lados limitados pela estrada de Tietê, terras da fazenda do sr. João de Campos Camargo e da fazenda Leopoldina, erguera-se um pequeno caramanchão, ornamentado com arcos, flâmulas e galhardetes, tendo ao lado a corporação musical que seguidamente tocava belas e alegres árias. O que Capivari possuia de mais elegante e fino na sua brilhante sociedade ali estava, destacando-se o apuro do trajar das damas e cavalheiros. O padre Haroldo procedeu à benção da pedra, a seguir conduzida, com ênfase pelo Presidente da Câmara Municipal sr. José Rodrigues Leite, pelo engenheiro Rafard e demais autoridades, para o sítio que lhe estava destinado. O Secretário da Câmara lavrou um ata de cerimônia, assinada por todos os presentes, a qual juntamente com exemplares dos jornais do dia, foi encerrada numa caixa de cobre. Colocou-a no local o Vereador dr. Adolfo Gordo. Ouviu-se então a palavra autorizada de Cesário Motta, que num brilhante discurso, saudou em nome da Câmara Municipal, a Companhia Central Sugar e o seu esforçado diretor-gerente, pela iniciativa industrial que patrocinavam Capivari.
   O sr. Henrique Rafard, em palavras repassadas de emoção e calor, agradeceu as saudações de Cesário Motta, rogando que as homenagens que lhe estavam sendo tributadas se dirigissem ao Conselheiro Gavião Peixoto e a Antônio Pompeu Paes de Campos, magníficos colaboradores sem os quais o Engenho Central não se edificaria nunca.
   Causou profunda impressão em todos os circunstantes a palavra eloquente de Rafard, valoroso propugnador da fundação do Engenho e que antevia o ridente futuro que se iria delinear na Província à indústria açucareira.
   Falaram ainda, com o mesmo intusiasmo, os srs. Luiz de Souza Ferraz e professor Luiz de Freitas. Luziam no céu as primeiras estrelas quando se encerrou a solenidade e as autoridades e convidados regressaram a Capivari.

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   Um ano depois, em junho de 1884, a fábrica de açúcar entrou em funcionamento, produzindo as primeiras partidas, não tendo havido a festividade inaugural anteriormente programada.

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   Ainda nesse ano a imprensa local noticiava: "A princípio os terrenos da Companhia constavam apenas de 10 alqueires. Hoje aumentaram-se com a Cachoeira, com perto de cem alqueires e onde já se acham trabalhando homens livres, americanos e tiroleses. A fazenda Leopoldina foi adquirida pelo fundador do Engenho, de modo que poderá, só dos terrenos próprios, contar com 300 quarteis de canas ou cerca de 12 milhões de quilogramas, o que dará serviço para 400 dias de trabalho efetivo."

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   Fora do Engenho via-se a nascente Vila: bom número de casas, feitas de tijolos, outras em construção. Um sobrado faz as vezes de hotel, abrigando parte do pessoal; há armazéns, fábrica de cerveja, padaria, açougue, casas para empregados. O povoado necessita de uma capela e de uma Escola. O semanário "Capivariano" informava: "O número de empregados, por enquanto, é avultado, dadas as necessidades das construções em andamento, e é constituido de nacionais e estrangeiros. O diretor, porém, acha que concluidas as obras, o pessoal poderá ser reduzido a 66 pessoas. A lavoura, nos arredores do Engenho, vai animada, não devendo faltar cana para as futuras safras".
   Todos os aparelhos foram adquiridos na Inglaterra, nas Oficinas J. I. Dale, de Kircaldy, menos as centrífugas. O maquinário instalado em 1883 foi o seguinte: 1 moenda completa de 3 cilindros com dupla engrenagem e máquina a vapor de balancim; 6 caldeiras, geradores de vapor multitubulares com fornos sistema Thompson- Black com 100 m2 de superfície de calefação c/c; 1 chaminé quadrada, de tijolos; 1 serra circular para cortar lenha para os fornos Godilot e as locomotivas; 6 defecadoras hemisféricas de cobre, 15 hectolitros; 12 decantadores de ferro fundido de, condensador 15 hectolitros; 3 eliminadoras circulares de folha de aço com serpentinas de cobre; 4 filtros Phillips; 1 tríplice efetivo verticalcom válvulas para isolação, condensador e aderentes, 1 vácuo de 15 hectolitros com condensador; 1 dito de 120; 1 máquina a vapor com balancim; 1 elevador hidráulico para os vagonetes; 1 mesclador para açúcar de 2º e 3º jatos; 8 turbinas suspensas sistema Weston; 1 transportador Helical; 1 máquina a vapor de 16 H.P.; tanques para água, calda, xarope, melaço, espumas, tudo para vapor direto, bombas armações de ferro fundido para aparelhos, plataformas, escadas, serviços de água instalados na margem esquerda do Capivari a 800 metros do Engenho.

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   O Engenho padeceu as vicissitudes decorrentes do baixo rendimento das lavouras, da queda dos preços do açúcar ao fim das safras e a Companhia Central Sugar fez bancarrota com um déficit de 130 contos. Os credores reunidos constituiram uma sociedade intitulada - "Companhia do Engenho Central de Capivari", sob a presidência do dr. Albano do Prado Pimentel e a gerência do sr. Henry White.
   Novamente fracassou o empreendimento e o Banco Construtor e Agrícola de São Paulo, credor da nova empresa, promoveu o sequestro do Engenho e o vendeu por 300 contos aos srs. Hermann Buchard, Joaquim Eugenio do Amaral Pinto, Júlio Conceição e dr. Castro Sobrinho. A nova firma adquiriu as fazendas Leopoldina, Santo Antônio Proença, buscando a ampliação da lavoura canavieira e aumento da produção açucareira.
   Em 1899 a Usina de Vila Rafard foi adquirida por um sindicato que a vendeu a uma Sociedade Anônima Fransindicato que a revendeu a uma Sociedade Anônima Francesa - "La Companhie Sucrerie de Villa Raffard", com capital de 1.600.000,00 francos, séde social em Paris, Boulevard Poissonniére, 25, empresa essa presidida pelo sr. Mauricio Allain e administrada por este e pelo sr. Edmond Steinheil. A partir de então consolidou-se a obra de Rafard e o Engenho não interrompeu mais seu progressivo desenvolvimento.



Referência Bibliográfica:
Livro - "O menino de Capivari II" cap. X
Autor - Vinicio Stein Campos